quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Fluxo de Antonio Filho


Escultura
foto: Antônio Filho
As construções urbanas, assim como as palavras, se agregam formando estruturas, que falam aos seus habitantes em discursos que associam elementos físicos ao imaginário, coordenando significações de entrada, saída, verticalidade, interiores, volumes e aparência com sua articulação nas práticas sociais[1]. Esses elementos de linguagem urbana indiciam variáveis ideológicas, articulam padronização, revelam as hierarquias e certas formas de controles sociais, além de servir como cenário para uma memória nem sempre consciente dos cidadãos.

Existem também espaços em silêncio, vazios de significados para uma determinada comunidade. Espaços ainda não domesticado pela racionalidade como as matas, historicamente associado ao medo, ao desconhecido.  É portanto a criatividade em modificar o espaço que produz o lugar[2], resultado do morar, das marcas impressas na terra, nas árvores, nos rios. Estas “escrituras urbanas “ construídas, envolvem a sociedade e moldam o ordenamento simbólico das comunidades em seu imaginário.

Com o passar do tempo, a maneira como os indivíduos ordenam essas relações, criam-se demarcações de diferenciação em relação a outros lugares, gerando diferenças de discursos. São estes ambientes exclusivos, com cargas identitárias e de memórias específicas como o “meu” bairro, a “minha” cidade, a “minha” favela que formam os territórios.

O espaço, o lugar e o território são, portanto, conceitos que amalgama o ambiente físico ao corpo coletivo social no percurso do tempo. - É esta a matéria prima conceitual, de contínuas interações, entre comunidade e espaço físico urbano, que o artísta Antônio Filho desenvolve sua poética visual em FLUXO. São poesias entre o sangue e o concreto, envolvendo as memórias das organizações coletivas locais, topografias abstratas, expressões de tensão presente no imaginário coletivo entre a imposição ideológica verticalizadora e a necessidade da existência dos silêncios, dos espaços horizontais e sem discursos urbanos na cidade. 

Roncalli Dantas, 
Agosto de 2012



[1] SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade. Editora Imago, 2002

[2] HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Editora Vozes, 2005

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