sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Exu entre Dioniso e Apolo




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Alienação. Ohhh!
Mas a arte é o equilíbrio entre Dioniso e Apolo, entre corpo e intelecto.
- Sim.
Mas veja só.
Vamos a um desafio!

Eu ponho Construção de Chico Buarque na lousa (com partitura e tudo) e você põe qualquer uma de Jakson do Pandeiro. Quem ganha? Quem ganha?...
dou-lhe uma, dou-lhe duas.... BOOOOOM

Mas é lógico que o grande Chico ganha na lousa. É lógico que a estrutura melódica, harmônica e lingüística de Construção é tecnicamente melhor! Mas onde mora a lógica da performance quando se entrega um violão a Chico e um pandeiro a Jakson?

O que dizer da sofisticada embolada rítmica e corpórea de Jakson? Será mesmo que o baixinho mestiço tinha consciência intelectual do que fazia no palco?
- Um momento. Antes de qualquer coisa, é bom deixar claro que sou fã de Chico Buarque.
A canção de Chico não aliena. A letra é distribuída obedecendo os acentos melódicos e a angústia do trabalhador, que morre no asfalto atrapalhando as proparóxitonas, é a própria tragédia que leva o espectador ao Pathos, catarze... e tudo mais. Tudo meticulosamente e intelectualmente dosado.
E do outro lado? Tadin de Jakson. Ele fez somente música corpórea! Nele pulsa apenas resquícios do sangue azul.
Mas como um Exu se travestindo de Dioniso, o pequeno mestre percorre malandro entre melodia e letra. Percorre, anda, corre, desacelera e faz isso magistralmente entre contratempos de consoantes e vogais na batida do pandeiro. Essa é uma virtude que ainda muitos teóricos não perceberam. Simplesmente porque Dioniso abandonou a Europa e como nós aqui dificilmente produzimos teorias, acabamos aceitando os paradigmas do que é boa música a partir do que se chama boa música na Europa.

Nós reproduzimos todos os dias na academia a inversão da cena do príncipe Charles dançando com a negra Piná na década de oitenta!
Somos Charles querendo que uma negra dançe como nós. Ou melhor, que ela deixe de dançar... porque é alienante.
Não é possível teorizar canções populares brasileiras a partir somente dos paradigmas científicos intelectuais europeus. Simplesmente por que nossa canção popular, devido à influência africana, tem uma sofisticação diferente!