terça-feira, 31 de março de 2009

Dia de cão no paraíso



28 de março

Em um set de filmagem

No interior de uma casa,
confinados ao calor dos refletores,
uma duzia de pessoas disputavam espaço
com o material de gravação, criando
soluções para as filmagens.
Eu vi aqueles
seres nojentos com suor entranhado junto
à poeira nas roupas em coro imagético
perfeito com Belo, o simpático cão sujo de
lama, que perambulava no set à procura de
atenção. No entanto, o brilho nos olhos e
a disposição gratuita de se lambuzar na produção
do filme era evidente. Desconfio que exista
alguma entidade que proteja esses penitentes,
que socorra e dê ânimo para eles vencerem
um dia de cão. Ou será que foi
artimanha do velho Anjo Exterminador de Buñuel,
que impediu as pessoas de perceberem que estavam
confinadas naquele ambiente?
Não sei, não consigo visualizar respostas,
mas aprendi que o set de filmagem é um
templo de uma religião paradoxal.

Fazer cinema é encontrar o paraíso
vivendo num inferno.

Roncalli Dantas

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